quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Aparelho auditivo, um ABC com dicas para a adaptação.

Conselhos para ajudar na adaptação ao aparelho auditivo

Esta é a última parte da série "A Saga dos Aparelhos Auditivos" que começou neste post.

Imagine que você é um cozinheiro preparando uma receita complexa, com um detalhe importante, você não pode experimentar nada, nem se está bom de sal. A única orientação é as quantidades da receita e o duvidoso auxílio de seu estagiário-assistente-de-cozinha. Então você coloca a quantidade de páprica que acha suficiente e pergunta ao estagiário o que ele acha e ele diz: "ahn.. não sei, sabe? talvez.. meio... não sei direito.. parece que está meio salgado, ou meio azedo, ou meio doce.. não
sei..."

Terrível, não? Como é que alguém vai cozinhar sem experimentar a comida? É assim que se sente a fonoaudióloga quando o paciente está na fase de encontrar a regulagem ideal do aparelho. Ela - ou ele - não pode escutar com seus ouvidos e só tem a tela do computador com o resultado de sua audiometria e os parâmetros de sensatez para atingir uma boa regulagem. Isso pode ficar tão complicado que pode motivar a uma desistência, coisa muito comum, especialmente com pessoas de maior idade.

Se decidir por usar e encontrar um bom aparelho auditivo já é tarefa complicada, desistir dele pode ser muito mais frustrante. Afinal, para chegar onde chegamos, tivemos de passar por muitas etapas e ninguém quer o quadro abaixo:
  • Um investimento bastante alto 
  • Um aparelho caro largado na gaveta 
  • Um velho surdo
  • Uma filha frustrada gritando em sua orelha. 
Esse é um quadro bem desagradável para qualquer pessoa, mas acontece com certa frequência. Não que eu tenha feito pesquisas específicas no assunto, afinal sou apenas um usuário experimentado que ao conversar com muitos amigos cujas vovós, vovôs, mamães e papais terminaram guardando o caríssimo aparelho na caixinha pra sempre.

A justificativa: Ela não aguentava mais aquelas idas e vindas até a fonoaudióloga, o aparelho não ficava bom nunca, ora tinha muito barulho, ora não dava pra escutar nada...

Pensando nisso e baseado no que eu aprendi em cerca de vinte anos usando aparelho auditivo, tenho algumas dicas para quem está cansado de dizer hã? e está a fim de experimentar como fica a vida de quem usa aparelho auditivo e principalmente está a fim entrar em uma aventura de verdadeiro sucesso.

Se você tiver paciência e persistência, sua vida pode ficar uma maravilha e você pode passar a escutar até mesmo melhor que a maioria das pessoas, lembra da Jammie Sommers? A mulher biônica namorada do Steve Austin, o Homem de Seis Milhões de Dólares? Ela conseguia escutar coisas que ninguém escutava... isso não está tão longe da realidade de hoje em dia não.

Comunicação

A primeira coisa a ser compreendida é que a comunicação eficiente entre o paciente com perda auditiva e o fonoaudiólogo é absolutamente essencial para que seu investimento gere resultados satisfatórios. Para que isso aconteça, sugiro que você procure se esforçar para compreender o mínimo essencial sobre como funciona o som, para que você possa ajudar seu fono a regular seu aparelho direitinho.

O som

O som é feito de ondas. Imagine um barquinho amarrado em um pier sob efeito das ondas do mar. As ondas são o som, elas foram geradas em algum lugar longe dali, mas propagaram-se pela superfície do mar até atingir o barquinho que balança subindo e descendo.
Agora imagine a corda de um piano. Ao apertar a tecla, um martelinho bate na corda e ela começa a vibrar. Essa vibração impressiona o ar ao seu redor que vibra de forma idêntica e assim como as ondas do mar que viajam pela superfície do oceano, as vibrações do som viajam pelo ar até atingir seus ouvidos.

O ouvido é uma máquina maravilhosa, ele funciona transformando as vibrações das ondas sonoras em impulsos elétricos que são interpretados pelo cérebro.

Dentro do ouvido, existe um órgão que parece com um tamborzinho, ele chama-se Tímpano.
Quando o tímpano percebe uma vibração no ar, ele também vibra e conduz esta vibração para dentro do ouvido interno através de um grupo de ossinhos simpáticos até uma espécie de concha que recebe o nome de cóclea ou labirinto. O labirinto está cheio de líquido e ele tem cabelinhos.. quando a vibração chega, o líquido se mexe e sensibiliza os cabelinhos que por sua vez transformam as vibrações em impulsos elétricos que irão para o cérebro através dos nervos auditivos, para finalmente serem compreendidos como um verdadeiro som do piano.

O labirinto tem também a função de ajudar você a perceber se está deitado ou em pé ou de cabeça pra baixo. É por isso que quem tem labirintite, sente-se tonto... o labirinto inflamado não está cumprindo sua tarefa direitinho, mas isso é outro assunto.

Tipos de sons

Existem diferentes tipos de sons, uma tuba ou um contrabaixo, por exemplo, produzem sons graves.

  • Já um píccolo ou mesmo os pratos de uma bateria, ou o violino, produzem sons agudos.
  • O som de um caminhão passando na rua é mais grave que o som de uma motocicleta.
  • O som de um garfo batendo em uma taça de cristal é mais agudo que o som de alguém batendo na porta.
  • O som de uma zabumba é mais grave que o som de um sininho. A zabumba tem um som abafado. O sininho tem um som metálico.


Imagine um restaurante cheio de gente, temos sons de todos os tipos:

  • Sons graves como passos, pancadas nas mesas ou as vozes dos homens, coisas raspando, sons abafados.
  • Sons médios com as vozes das pessoas em geral, sons metálicos.
  • Sons agudos como garfos e pratos se chocando ou a voz de crianças e algumas mulheres (só algumas...).

O "som de restaurante" é feito de graves, médios e agudos. Essas diferenças entre os tipos de sons recebem o nome de frequência sonora e intensidade. Sendo assim, sons graves são sons de baixa frequência enquanto sons agudos são sons de alta frequência e é lógico dizer o mesmo sobre sons médios, ou seja, sons de frequências médias. Todos os sons podem ser de maior ou menor intensidade, isto é, mais fracos ou mais fortes.

Se prestarmos atenção em uma pessoa falando, perceberemos que a voz humana é feita de diferentes sons também, sons mais graves e sons mais agudos. Imagine a palavra SOM. Ela é feita do som do "S" e também do som o "OM". O "S" é um som agudo, como um chiado ou o prato de uma bateria. Já o "OM" é um som mais grave, como notas da esquerda do teclado de um piano.

Então, se você não consegue escutar sons agudos, terá muita dificuldade em entender a diferença entre escutar as palavras "TOM", "SOM", "DOM" ou simplesmente "OM", afinal, se lhe faltam os agudos, como você conseguirá entender o "S" do som que é feito somente de sons agudos?

O mesmo acontecerá se for o contrário, ou seja, se você não escuta sons graves, entenderá a palavra "SOM" como apenas um curto e estranho "S"...

Entenda sua deficiência

O primeiro passo é consultar um médico e fazer um exame de audiometria. Ali será a porta de entrada para entender que tipo de deficiência auditiva você tem e se ela pode ser tratada, amenizada ou até corrigida com o uso de um aparelho auditivo.

Você entrará em uma sala a prova de som, o médico colocará um fone de ouvido especial em você e do lado de fora, irá utilizar uma máquina para produzir apitos de todos os tipos. O procedimento é simples, se você consegue escutar um apito, você avisa. Se não consegue escutar, faz aquela cara que é só sua. A máquina faz um apito e ele vai baixando o volume até o momento em que não é mais possível escutar. Nessa hora ele faz uma anotação que significa que aquele determinado apito que fica naquela determinada frequência sonora, só pode ser escutado se ele tiver o volume x.

Veja a imagem de meu audiograma. As bolinhas são o ouvido direito, as cruzinhas são o ouvido esquerdo. A coluna do gráfico é a intensidade sonora e a linha é a frequência sonora. Então quanto mais para baixo, pior... Perceba que eu escuto relativamente bem os sons mais graves que ficam à esquerda do gráfico, porém os agudos são mais problemáticos, com uma perda maior.

O próximo passo será procurar o aparelho, para ajudar, escrevi os outros artigos aqui sobre a Saga dos Aparelhos Auditivos, afinal você precisa de um aparelho adequado para seu estilo de vida.

Acuidade sonora

Sabemos a diferença entre "PATA" e "FACA" porque cada fonema "P", "T", "F" e "C", é feito de determinados sons.. nosso cérebro foi educado para decodificar isto. Se hoje não conseguimos escutar o som do "F" e amanhã voltamos a escutar, imediatamente nosso cérebro se lembra que aquele é o som do F.
O fonoaudiólogo faz também, um teste onde ele recita várias palavras para verificar sua acuidade sonora. As vezes apesar de escutarmos as palavras (porque o som dos fones está alto), não somos capazes de compreendê-las corretamente (lembra da velha surda da Praça da Alegria?) confundindo as palavras e uma "cuca turca" vira "puta surda", que horror!

Existem alguns casos, onde a pessoa passou tanto tempo sem escutar direito, que o cérebro não se "lembra" mais como são os sons.
Nesses casos, mesmo que o aparelho amplifique os sons que faltam, ainda a pessoa terá de passar por um processo de reeducação sonora, para que seu cérebro reaprenda que o "F", por exemplo, tem aquele determinado som. Isso significa que você precisará de muuuuuito mais calma e paciência, mas pode ser feito.

Adaptação

Os testes medem sua capacidade de escutar os diferentes tipos de som, sejam eles de alta, média ou baixa frequência. Lembra o que comentei logo acima sobre a palavra "SOM"?

Vamos então imaginar que por exemplo, você tenha perda auditiva na região dos sons agudos. Um aparelho auditivo poderá aumentar o volume dos sons agudos possibilitando que você os escute.

É aqui que começa o primeiro passo.

Imagine que fazem muitos anos que você escuta mal. No exame deu que você tem perda auditiva na região dos agudos. Isso quer dizer que há anos você quase não sabe o que são sons agudos. No instante em que você colocar um aparelho auditivo, um novo tipo de som passará a fazer parte de sua vida e é bem possível que isso seja uma surpresa bastante grande para você, especialmente se fazem muitos e muitos anos que você escuta mal.

É por isso que o aparelho precisará passar por uma muitas vezes longa fase de adaptação. Não será possível que no mesmo instante que você o colocar na orelha, saia escutando tudo como por milagre. O aparelho irá lhe incomodar, pois você não está acostumado a escutar todos aqueles sons. Seu mundo sonoro era mais restrito. Lembra como foi surpreendente quando as televisões passaram a exibir imagens coloridas ao invés de apenas em preto e branco? Hoje você escuta em preto e branco, amanhã poderá escutar colorido, mas para isso é preciso tempo de adaptação.

O fonoaudiólogo sabe disso e irá regular seu aparelho de forma progressiva e suave para que você vá aos poucos se acostumando com os novos sons até que só depois de completamente adaptado, você realmente esteja escutando todos os sons que lhe faltam sem que isso se torne um tormento em sua vida. Isso invariavelmente significará idas e vindas ao consultório para que de ajuste em ajuste, você chegue ao melhor resultado.

Agora que você está começando e entender a situação, também ficará mais fácil entender que quando mais eficientemente você informar ao seu fonoaudiólogo sobre o que é que efetivamente você está escutando, mais fácil será para ele ou ela, regular seu aparelho. O que quero dizer é que apesar do fonoaudiólogo saber que deve ir devagar com a regulagem dos sons, ele não tem como escutar com seus ouvidos e só suas informações poderão ajuda-lo a tornar sua vida com aparelhos o menos tormentosa possível.

O sonho dos fonoaudiólogos é ter uma pessoa como este que vos escreve como cliente, pois eu sou capaz de dizer a ela que preciso de uma amplificação de cerca de 6dB na faixa de 2khz. Claro que isso soará grego para o leigo, mas como eu procurei aprender o máximo possível sobre o assunto, minha vida torna-se mais fácil nessa hora. Você não precisa ir tão longe, mas se você for capaz de dizer que "faltam graves", ou "sobram agudos", ou "está muito metálico", ou "está muito abafado" e assim por diante, já será de grande ajuda. Se você anotar as coisas relativas aos tipos de ambientes que você frequenta, também poderá ajudar, veja um exemplo de uma coleta de informações sobre alguns dias de uso de um aparelho auditivo pela primeira vez:


  • "assistir novela - muito confortável"
  • "conversar com a família na cozinha - muito barulho de talheres e pratos"
  • "ir até a quitanda - um inferno de carros e buzinas"
  • "conversar com uma pessoa em lugar silencioso - perfeito"
  • "festa de aniversário de meu neto - quase fiquei louca, mas consegui conversar com minha nora finalmente..."
  • "consegui escutar o padre falando na igreja"


Estas informações são essenciais para ajudar o fonoaudiólogo a conseguir regular seu aparelho de maneira mais eficiente.

Lembre-se que você só poderá atingir o máximo de eficiência depois que tiver passado pela fase de adaptação e isso poderá levar várias semanas. Antes disso, o aparelho estará agindo de forma mais discreta e é claro, menos eficiente. Tenha paciência, isso é essencial.


Dicas de ouro


  • Acalme-se, mergulhe na aventura quando estiver sob menos stress, pois é preciso estar preparado para um certo tempo até que você esteja 100% sintonizado com seu novo aparelho.
  • Vá ao médico, entenda sua deficiência
  • Aprenda o que são sons graves e agudos
  • Tenha paciência para se adaptar aos aparelhos
  • Anote o que percebeu nos mais diferentes ambientes
  • Volte ao fonoaudiólogo regularmente para novos ajustes
  • Cuide muito bem de seus aparelhos, não deixe o cachorro mastiga-los

Muito importante

Nunca tenha vergonha de sua condição e muito menos de seus aparelhos. Sinta-se orgulhoso de levar toda aquela tecnologia nas orelhas, conte para as pessoas, mostre os aparelhos para elas, conte como você aprendeu todas essas coisas e como agora você consegue escutar melhor.

Você é um vencedor! Agora e sempre!

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Por que a fé alega ser hermética?

É interessante observar que as pessoas do mundo ocidental procuram sempre se certificar de que a liberdade de expressão não está sendo cerceada de alguma forma. Assim, todos tem o direito de criticar, tirar sarro ou até ridicularizar, por exemplo, o pessoal do Funk, ou os camelôs, ou os ciclistas, ou os que caminham digitando no celular e caem em buracos na rua, ou talvez as donas de casa ou os nerds, os palmeirenses, os coritianos ou os gremistas e os colorados também. Os gays também podem ser alvo de críticas e brincadeiras, os negros, os pobres, os judeus... até os políticos podem (e  estes devem) ser criticados, ridicularizados e etc..

Tudo bem, o politicamente correto intercede, mais por sua hipocrisia contemporânea do que por convicção real, mas sempre sobra uma farpa amiga ou um muxoxo de desprezo que pode ter lugar nas conversas do dia a dia... porém, quando se fala de fé.. pode parar por aí!

Se alguém criticar a fé do outro, então a ofensa está feita! Não estou falando só de fé em deus ou deuses e deusas, pode ser a homeopatia ou as superstições.

Parece que os detentores das "verdades" de sua fé, julgam-se herméticos. Dize-se mal de ateus, mas ouse criticar alguém que acredita que existe um deus deliberando entre as nuvens... Fala-se mal de remédios e vacinas, mas ouse alegar que homeopatia é inócua.

Pessoalmente acho que a liberdade de expressão deveria valer para todos. A fé não é mais nobre do que o time de futebol ou o partido político, embora muita gente vai achar essa frase um absurdo.

Reencontrando amigos do Samiar

Foi só uma nota no Messenger do Facebook, daquelas que normalmente você ignora, afinal, quem usa Facebook hoje em dia? As redes sociais vão ...