| Cemitério Israelita do Butantã - um lindo lugar. |
Fui até o cemitério hoje me despedir de meu amigo Roberto Simon. Fazia um bom tempo que eu não o via e que pena, não pude vê-lo, já que provavelmente, pela tradição judaica, o caixão vai fechado.
Eu nunca havia presenciado um funeral judaico, apesar de já ter estado em um Bar-mitzvah e também num Britmi-la… ambas festas comemorativas e cheias de festa e alegria, e principalmente um espírito de comunidade inegável.
E esse espírito estava lá. Havia uma quantidade considerável de pessoas e algumas delas, colegas meus do voo livre, gente que eu tenho muito carinho.
Após um pouco de conversa na porta do pequeno templo, entramos e nos sentamos. Achei curioso o detalhe das duas metades dos bancos serem destinados a homens do lado esquerdo e mulheres do lado direito, reminiscência de uma tradição que hoje faz a gente pensar.
Um dos rabinos iniciou a cerimônia entoando um cântico em hebraico. Fiquei algo hipnotizado pelo som indecifrável daqueles fonemas, mas creio que não era preciso entender o que estava sendo dito, já que a mensagem era implícita na entonação com que o rabino declamava.
Em seguida, amigos e parentes foram até a frente falar sobre o Roberto, sempre representando algum grupo do qual ele pertencia. Trouxeram pequenos causos, curiosidades, características, detalhes sobre a vida de Roberto que provocavam sorrisos e suspiros. Por um momento, senti-me no dever de representar o grupo dos voadores e me adiantei até a frente onde contei uma história singela, e divertida. As pessoas responderam com risadas e alegria. Um dos rabinos que discursou disse algo interessante sobre ele, “será que estou ficando mais religioso?” Roberto teria perguntado recentemente. Gosto do simbolismo da palavra religião, que significa algo como “religar”. Então alguém que está “ficando religioso” poderia ser alguém que está buscando algum tipo de conexão, se religar com algo, talvez algo que tenha ficado para trás, quem sabe?
Ficou muito claro ali, que Roberto era muito amado, admirado e conhecido como um homem impetuoso e corajoso, coisa que nunca foi diferente quando estava perto de nós em alguma rampa de voo livre.
Logo após, seguimos todos para o enterro, e então a mágica começou quando cada um daqueles senhores de barba e chapéu, alcançou uma pá e começou a trazer a terra que estava ao lado da cova, para seu interior, cobrindo assim, o caixão. Pouco depois, passaram as pás para outras pessoas e mais outras até lá estava eu ao lado de uma cova com meu amigo Roberto dentro e eu com uma pá nas mãos. Inspirei fundo, enfiei a pá na terra com vigor e imediatamente me brotaram as lágrimas dos olhos. Atirei a terra sobre a madeira negra com sua imensa cruz de Davi na parte superior. Fiz isso mais duas ou três vezes enquanto soluçava até que ficou difícil enxergar e entreguei a pá para outra pessoa.
A beleza daquele momento me contagiou. Cada amigo do morto contribuiu com um pouco de terra, para devolver ao Roberto Simon, a merecida paz após essa sua vida tão intensa.
Senti-me honrado de poder fazer esse gesto. Levei algum tempo para me reorganizar e finalmente me despedi dos vivos e voltei para casa.
Durante o caminho, dirigi calmamente enquanto digeria o que havia acontecido naquele lugar. Pensei no quanto nossa vida é passageira e no quanto é importante que quando morrermos, tenhamos quem possa cuidar do que sobrou da gente.
Cada uma daquelas pessoas foi até lá e levou um pedacinho desse cara tão especial, às vezes difícil, mas sempre com um coração puro, o Roberto Simon para que em forma de memória, esse pedaço viva mais um tempo, quem sabe para sempre, em nossos corações numa eterna saudade de alguém que fez uma diferença em minha vida.
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