No final dos anos 30, o povo alemão estava sofrendo. O pós 1ª guerra era um tempo de miséria e a promessa de progresso e dias melhores colocou Adolf Hitler no poder. Junto com a ideia de colocar ordem na casa, Hitler culpou os judeus por tudo que tinha dado errado na Alemanha. Aquilo foi perfeito! Todos tinham a quem culpar, afinal é muito mais fácil quando a culpa não é nossa.
Hoje o alemão médio ainda tem dificuldade em conviver com a vergonha do que aconteceu naquele tempo, tanto que ainda há quem negue tudo aquilo e pior, quem ainda ache que o que ele fez com o povo judeu não foi tão relevante assim.
Em uma entrevista recente com Yuval Harari, que é autor da dobradinha imperdível de livros: Homo Sapiens e Homo Deus, ele disse mais ou menos a seguinte frase: "Você não consegue convencer as multidões apelando para a inteligência. Isso só funciona se você apela para a emoção, pois é assim que é o homem, governado pelas emoções."
Eu me lembro de ter me arrepiado de emoção por um político, uma única vez em minha vida, foi em 1989, quando eu e você elegemos Fernando Collor presidente e ele fez aquele discurso de posse. Ah, aquilo foi muito emocionante, lembro daquele dia até hoje, como o dia em que tive a sensação que o Brasil passaria a ser um país melhor. Não lembro se de fato eu votei nele, nem lembro contra quem ele concorria, mas lembro que se tivesse de votar naquela era, o nome seria Collor. Claro que naquela época eu era outra pessoa, talvez mais emotivo que hoje, mas posso também estar enganado.
Gurdjieff, que foi um filósofo do autoconhecimento e viveu no início do século passado, dizia que o homem dotado de consciência ou livre arbítrio é algo raro. Ele fazia uma analogia muito interessante com a figura simbólica de uma carruagem. Esta é o corpo físico, sendo que os cavalos são nossas emoções. O cocheiro por sua vez, é nossa mente e lá dentro da carruagem está o passageiro, que é nosso EU interior. Acontece que tudo está dissociado, o cocheiro, nas raras vezes que é capaz de escutar os gritos do passageiro, não consegue transmitir estas ordens aos cavalos que correm motivados por tudo aquilo que lhes chama a atenção, sejam os odores das éguas, dos queijos ou a simples delícia de correr pelas estradas como bons cavalos sabem fazer. Ainda por cima a carruagem não está lá em grandes condições o que invariavelmente termina com a morte (do passageiro) nalgum precipício não muito distante.
É fácil numerar atos e decisões que tomamos (e depois nos arrependemos) que foram motivadas por nossa emoções. Acontece que as emoções parecem agir mais rapidamente do que nosso intelecto. Um exemplo: você recebe uma notícia preocupante. Antes de formular qualquer pensamento e tomar qualquer decisão, você sente um arrepio percorrendo seu corpo. Seu corpo já agiu antes de qualquer coisa. Só depois de alguns segundos é que você decidirá o que fazer. Muitas vezes, a decisão se baseará exclusivamente nas emoções que você sentiu, sendo que muitas vezes também, você considera que agiu impensadamente movido por suas emoções. Esse tipo de justificativa costuma inclusive ser bastante usada na delegacia, não é verdade?
As vezes é difícil distinguir quando tomamos uma decisão motivados pelas emoções de outras motivadas por reflexão cognitiva, afinal basta algum grau de deficiência de empatia para tomarmos nosso ponto de vista como certo se olhar ao redor.
Acho que não é muito difícil entender por que muitas pessoas estão encontrando no Bolsonaro, uma possibilidade. Por mais incoerente, limitado, preconceituoso, racista, homofóbico, fascista, machista, misógino, xenófobo, pró golpe militar, grosseiro, extremista de direita, péssimo parlamentar, contra direitos humanos, contra índios, pró tortura... enfim... é uma pena que para muitas pessoas isso parece pouco relevante.
O Jair consegue tocar nos corações de muitas pessoas. Ainda bem que ainda dá tempo de pensar e escolher...