sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Protocolo e morte

Muito recentemente uma pessoa querida passou pela tristeza de perder sua companheira.
Fui até ao enterro e logo após o cerimonial observei-o enquanto enfrentava uma fila de amigos e parentes dando-lhe as condolências. Entre todos haviam aqueles que se detiam um pouco mais longamente e tentavam dizer algumas palavras de encorajamento, dizer que a vida continua, que devemos ser fortes, que ela está com alguém lá em cima, que nunca será esquecida, que também já tinha passado por isto, que fazia tempo que não se viam e que ele deveria ir até a casa deles e assim por diante. Seus olhos vermelhos delatavam o cansaço que as inúmeras tarefas que este pequeno universo nos obriga a fazer sem poder pensar em dormir ou descansar, mas parece que somos tomados por um estado de letargia onde tudo parece acontecer como num filme.

É muito difícil quebrar esta monotonia protocolar e talvez absolutamente desnecessário. Provavelmente só em casa diante de quatro paredes é que a ficha cairá e as verdadeiras lágrimas irão rolar. Até lá, será que realmente só nos resta seguir o protocolo e repetir as mesmas palavras como num mantra? ou não?

A vida parece nos convidar infinitamente para um estado de sono, mas para realmente viver a vida não há convite, para algumas boas festas, só se entra de penetra.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Plano B e Braço e Designio Divino


Chesley B. Sullemberger espetaculamente salvou as vidas dos 155 ocupantes do Airbus que sofreu pane em suas duas turbinas ao chocar-se com um grupinho de pássaros desocupados brincando de Bin Laden que passeava sobre Nova York.

Mais Designio Divino aqui? Querem saber o que eu acho? Quando se tem um plano B na manga e braço para conseguir um pouso tão espetacular, as chances de se conseguir sucesso numa empreitada destas proporções aumenta consideravelmente.

Leiam as notícias, Chesley é um piloto altamente experiente, com 40 anos de profissão e é instrutor de cursos de segurança de vôo, tem uma escola especialista no assunto. Provavelmente já decolou e pousou um incontável número de vezes daquele aeroporto, já olhou tudo em volta e já imaginou todo tipo de possibilidade antes da quinta feira dia 15 de janeiro de 2009. Ele já sabia que sem motores ele só teria a opção de pousar no rio Hudson. A decisão estava automaticamente tomada quando ele percebeu que ambas as turbinas estavam inoperantes, só restava (agora sim) contar com a ajuda divina para que não houvesse nenhum naviozão passeando no rio justo naquela hora, mergulhar o nariz para não perder velocidade (e correr o risco de estolar o brinquedo sem empuxo, não se esqueça, Joãozinho) e fazer um espetacular pouso de barriga que não só salvou a galera toda como também até as malas.

Sim, ele merece vivas, a chave da cidade, o abraço do Obama e muito mais e vem mostrar que quem voa tem que ter um plano B e ainda tem que ter braço pra segurar o brinquedo.

Foi culpa do divino


É, muita gente diz "Deus quis assim"... especialmente quando acontece uma desgraça que ninguém queria. Vejo isto como uma forma flagrante de fugir da responsabilidade, por mais que seja apenas de encontrar uma explicação, ou assumir que certas coisas simplesmente não tem explicação. De qualquer forma, responsabilizar é sinônimo de assumir, não é?
Fiquei particularmente impressionado nesta manhã quando li a notícia que dizia que o pessoal da igreja Renascer atribuiu ao "Designio Celeste" a tragédia que matou várias pessoas nestes dias quando o telhado de um templo ruiu sobre a cabeça dos fieis.
Botar a culpa em Deus é bem fácil. Afinal ele está lá tranquilo sentado no céu e provavelmente não está nem aí para as responsabilidades que o bicho-homem lhe atribui desde que começou a "pensar bem". Pobres daqueles que estão ali debaixo do teto em ruinas, com toneladas de tubos de ar condicionado, esperando um alento para as agruras do dia a dia.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Preconceito no condomínio


Tudo bem, já nos mudamos e isso foi onde eu morava, no finíssimo Tatuapé. Transcrevo o texto que enviei para o Milton Jung na CBN.


Assisti uma cena lamentável outro dia no elevador. Um grupo de meninas nos seus dez anos de idade, estava de maiô, estava indo para a piscina. Para continuar sendo óbvio, brinquei com elas e disse “ah… vocês vão brincar na piscina?”. Imediatamente aquela que parecia “a chefe” respondeu: “Nós vamos, mas ela não porque ela é filha do zelador”… No canto, uma das meninas me olhava com uma carinha triste. Achei um horror aquilo e fui conversar com o zelador que me disse que apesar dele morar no edifício, seus filhos eram proibidos de brincar na piscina porque algum condômino havia reclamado ao ver sua filha “misturando-se” as outras. Pode?

sábado, 17 de janeiro de 2009

Faxineira procura


Morar em um apartamento deveria dar menos trabalho que morar em uma casa, afinal o espaço é menor, e há muito menos o que limpar. Tem coisas até divertidas de fazer, adoro colocar água nas plantas e não reclamo de lavar louças, especialmente com água quente e uma pia de duas cubas. Passear pelo corredor com aquela vassoura que gruda o pó é o máximo, sinto-me limpando o planeta nessa hora.
Uma coisa mais complicada é passar roupas já exige um pouco mais de atenção, é preciso método. Como sou um homi muderno digitei "como passar uma camisa" e fui parar aqui. Foi tiro e queda, a qualidade de minhas passadas aumentou muito, mas sem o rádio tocando e em dia de calor, é uma tarefa meio chata mesmo.

Bem, mas quem trabalha nesta casa? Eu também trabalho, sabia? Então contratamos uma faxineira. Mulher simpática, quem sabe um dia poderá até ser babá?
Nas primeiras vezes, deixei-a para decidir o que fazer e como fazer, mas percebi que vários detalhes estavam passando um pouco mais empoeirados... Tudo bem, sou muito chato, tenho aquela mania horrenda de passar o dedo sobre as superfícies para fazer o teste da poeira.

Como na maior parte das vezes eu nem cruzava com a faxineira, que chegava depois que eu já tinha ido embora para o trabalho, resolvi deixar uma listinha com as "instruções" para aquilo que queríamos que fosse feito. No começo foi muito bom, ela até respondia dizendo "Fiz tudo aquilo que estava na lista". Foi um alívio, com meus recadinhos eu conseguia que ela realizasse coisas como organizar panelas ou gavetas, até mesmo colocar lençóis e toalhas de acordo com "o jogo".

Mas, infelizmente as camisas saiam cruas, digo, mal-passadas. Como aquele blog lá me ajudou muito, resolvi passar para ela as instruções passo a passo... quem sabe assim as camisas não tinham a mesma melhora que o resto da casa?
Tiro no pé! A mulher ficou puta da vida e deixou uma mensagem desaforada dizendo que não era criança e que sabia muito bem o que ela tinha de fazer... de quebra levou suas coisas embora e nunca mais voltou.
Alguém conhece um curso de lidar com faxineira? Melhor: alguém tem uma faxineira pra me recomendar?

Arrogância do bem também faz mal

Ao longo de minha vida como não-analista, relacionei-me com um infindável número de pessoas. Uma importante parte desse número foi feita pri...