Este texto foi publicado no blog Ser Paizão, um blog voltado para a aviação, de meu amigo Jones Rodrigues. Eu fiz a entrevista por áudio e ele transcreveu o texto que agora colo aqui para vocês.
O texto foi originalmente publicado aqui.
Eu sou o Sivuca, um apelido carinho que meu avô meu deu. Na verdade meu nome é Sílvio. Sou Parapente e Escritor. Meu primeiro livro foi um sucesso, com duas edições totalmente vendidas e o segundo livro é meu xodó. No livro Ventomania o autor narra através de seu personagem João suas histórias repletas de emoções.Conta tudo o que aconteceu nos trinta anos de sua vida em contato com o voo de parapente. Aos poucos, o personagem se transforma no próprio autor, reservando para o desfecho da história, surpreendentes revelações. Cada pedacinho do livro traz uma história. É interessante de ser lido não só por pilotos ou entusiastas da aviação. É um livro voltado para todo o tipo de pessoa.
Fiz um prego ali de primeira, batendo numa árvore. E estava consumado meu batismo e minha paixão por essa loucura toda. Ali eu já sabia que isso era amor a primeira vista. Então, o próximo voo foi em Santos, onde novamente eu cometi novos erros que por falta de capacitação e conhecimento eu cai em cima de uma carro, uma Brasília que estava parada na rua. Cai no meio da avenida, eu sai rolando rua a baixo.
Na minha adolescência o meu melhor amigo era meu primo Alexandre, nós andávamos de skate e de patins, apostávamos corrida, saltávamos por cima da molecada. Era a época da Madona aparecendo com aquelas músicas. Quando eu fiz quinze anos, o meu primo foi embora morar nos Estados Unidos. Eu também amava fazer mergulho autônomo e andava muito de moto. Sempre gostei de andar de moto na terra, andava e acelerava. Talvez por todas essas coisas para meus pais o Parapente não enfartou eles. Ele sempre fui uma criança e um adolescente fora da curva tradicional.
Então, logo depois que eu comecei a voar de parapente, eu resolvi ir conhecer o mundo. Fiz minha mochila e me mandei para os Estados Unidos, isso já era um desejo antigo. Eu disse eu vou pra lá. E fui!!. Acho que essa foi a primeira coisa adulta que eu vim a fazer. Fui morar sozinho nos Estados Unidos.
Fui aprender a me virar em outro mundo, outra cultura, outro idioma. Sem contatos, sem amigos, sem socorro, sem família. Cheguei lá com um ticket de trem, e então passei um mês rodando de trem. Eu fiz uma volta pela Costa Cento e depois subi pela Costa Leste, e depois vim descendo pelo Oregon, de lá para a Califórnia eu vinha pegando carona na estrada.
E eu ficava sempre hospedado no Albergue da Juventude. Quando eu me encontrei com meu primo na Califórnia, fiquei sabendo que ele era motorista de caminhão. E eu fiquei com ele no início pra cima e para baixo, ele era recém casado com a esposa dele. Então ele me contou que estava comprando um caminhão novo e me ofereceu o caminhão velho para eu trabalhar. Então eu topei, e ele me ensinou a dirigir o caminhão. Eu aprendi rapidamente a dirigir aquele caminhão articulado. E rapidamente já estava trabalhando. Fiquei um ano trabalhando nos Estados Unidos e depois desse tempo fiquei com uma saudade louca para voltar para o Brasil, e voltei.
Naquela época deixei de lado a aviação e me dediquei a música, porque eu também era músico. Eu tocava contra baixo. Morar nos Estados Unidos abriu mais ainda minha mente, que nunca foi conservadora e tão pouco seguia os conceitos ditos como corretos. Posso dizer que morar nos Estados Unidos foi um verdadeiro batismo de adulto.
Ao longo desse tempo eu escrevi dois livros. Um deles foi lançado em 2007, chamado Voando de Parapente. É um livro mais técnico, voltado para o aprendizado, para instrução. Enfim, orientação técnica do esporte. É um livro gostoso de ser lido, porque cada capítulo conta uma história verdadeira do voo de parapente. E assim, é possível dar uma relaxada ao mesmo tempo do assunto técnico que trata o livro. Este livro já teve duas edições e atualmente estou trabalhando na edição da terceira edição, pois a segunda já está esgotada.
Até que cheguei na nuvem. Só que ao invés de eu ir reto e sair da nuvem, eu continuei entrando. Continuei subindo, subindo, subindo. E quando você entra dentro de uma nuvem, aquilo fico rapidamente muito úmido né. Praticamente vira garoa ali dentro. Começa a escorrer água, o frio começa bastante. Na medida que você sobe, lá pelos 400 metros na base da nuvem, já começa também a ter sinal de congelamento em razão do muito frio que é lá.
Voltando a minha história, e minha adolescência eu recordo que lá pelos meus 13 ou 14 anos, eu ajudava meu pai no trabalho dele, que era rádio amador. Acabei me tornando também rádio amador. Ele construía antenas enormes. Assim passávamos nossos dias voltados para a construção de antenas de longa distância, fazendo comunicados de longa distância. Eu aprendi telegrafia.
E eu me dependurava nas torres para levar aquelas antenas lá para cima, e eu nunca tive medo daquela altura toda não. Eu nunca tive medo de altura. O único temor que eu tinha era quando eu andava de moto e era perseguido por algum cachorro. Hoje eu acho isso até engraçado, mas acho que não era medo propriamente dito. Deveria ser o instinto animal e natural dos homens pela sobrevivência ou ameaça do cachorro.
Voar de parapente para mim faz parte da minha vida. Eu acredito que a parte mais interessante ao estar lá no céu é estar distante de tudo. É uma sensação de liberdade e solidão ao mesmo tempo. Você está pendurado no céu longe do chão, não tem nada perto. Não tem paredes, não tem teto. Não tem coisa alguma.
Você é apenas um pequeno ponto no céu. Isso é muito gratificante na minha vida. Muito emocionante. Como eu disse, eu tenho um companheiro, e eu sempre lidei com essa parte da minha vida de uma forma muito tranquila, talvez tenha sido pelo fato de ter morado nos Estados Unidos, de ter convivido com aquela cultura aberta para o que ainda é preconceito nos dias de hoje no Brasil.
Então hoje eu sou pai de uma uma menina que nós adotamos quando ela nasceu. Hoje ela já está com dez anos. Posso até dizer que muitas pessoas manifestam uma curiosidade no assunto. E eu sempre fui aberto para debater e bater papo sobre minha orientação sexual. Ou seja, ajudar a desmistificar esse assunto que ainda é preconceito e tabu aqui no Brasil.
No decorrer desses anos que sou instrutor, muitas pessoas vieram me agradecer dizendo "Olha Sivuca eu ter aprendido a voar de parapente me tornou uma pessoa melhor, porque fui obrigado a adotar procedimentos, a me preparar para aquilo que eu vou fazer, pensar, refletir, planejar". Assim são regras que os pilotos acabam levando para o seu dia a dia.
O voar de parapente como eu falei requer adotar e seguir procedimentos, padrão, muita preparação e principalmente os pés no chão. Porque para você se pendurar no ar, você precisa ter os pés no chão. Eu acredito que o caminho é uma ótima escola, um bom instrutor, devidamente homologados pelas associações. Entendo que o candidato a voo livre tem que procurar o que tem de melhor.
Não é um hobby a mais de final de semana que você aplica em sua vida e no outro final de semana você vai fazer outra coisa. Não é isso. O voo livre precisa de um envolvimento muito maior. Precisa de fato de dedicação, de envolvimento sério, especialmente nesse primeiro ano que a pessoa começa a voar, ela precisa tomar horas de voo, ela precisa somar experiência, ela precisa crescer como piloto, evitando o espaçamento de treino.