Uma torneirinha de escape para o maravilhoso e o aterrorizante do dia a dia de um cidadão do mundo, pai, voador, LGBT, empresário, um pouquinho surdo, estudante de psicanálise, que gosta demais de escrever. Silvio Ambrosini é conhecido pelos amigos como Sivuca, é autor dos livros publicados "Ventomania - Uma Vida Voando" e "Voando de Parapente" A venda em https://ventomania.com.br. Aproveite para visitar meu instagram em @sivukus
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Simpáticos e simpatias
Logo depois que me mudei para o novo apartamento, tivemos alguns pequenos acidentes domésticos em sequência que nos deixou um pouco assustados... Prateleiras que cairam, aparelhos que queimaram, baratas, formigas e até discussões infundadas.
Uma pessoa querida sugeriu fazermos uma simpatia, compramos alguns incensos e saímos algumas vezes passeando pela casa soltando fumacinha e pedindo para que os "maus espíritos" se retirassem para outras paragens.
Deu certo! A fase difícil passou e a paz voltou ao lar.
Não se trata aqui de confessar em público, meu crédito nos poderes sobrenaturais do além-túmulo, mas sim dividir com vocês minha conclusão: Nossa casa é um ambiente sagrado. É nela que passamos grande parte de nossas vidas e é a ela que dedicamos grande parte de nossas energias. A moradia é o abrigo, é o recolhimento, é a intimidade e como tal, ao dedicarmos-lha um instante de nossos dias, inclusive através de um banal gesto de passear pelos corredores com um pedacinho de incenso, invariável e inconscientemente passamos a "contaminar" o ambiente com um pouquinho de amor que se reflete de forma prática, num aumento no nível de atenção geral para tudo o que se passa. As coisas quebram menos, as formigas e baratas recebem veneno, as prateleiras desistem de cair...
É obra do divino? Qualquer instante de dedicação a algo que não seja apenas nosso umbigo é obra do divino.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Viremos a estar estando?
A cada dia aumenta vertiginosamente a quantidade de "estarei providenciando, estarei transferindo, para estar telefonando, a fim de estar dormindo"... e por aí vai o gerundismo à solta, deslizando como o barquinho do João..
Não sei se é porque fui aluno do Professor Paulo Palumbo, que tratava de estapafúrdio o menor deslize da língua portuguesa, mas confesso que estou virando um chato ao tentar "estar corrigindo" as pessoas com quem converso... "O que acha meus senhor?, Vou estar pensando..., Ah, o senhor VAI PENSAR?, Sim, vou estar conversando com minha esposa para ver o que ela irá estar achando... Ah, o senhor VAI CONVERSAR COM ELA PRA VER O QUE ELA ACHA?, Isso mesmo você não está me entendendo?, Entendendo eu estou, só não sei se estou gostando daquilo que estou escutando"... e acabo perdendo o freguês, você acredita?
E falando em escutando, ainda outro dia numa entrevista na CBN, uma doutoranda em ciências sociais deixava um telefone para as pessoas "estarem ligando e estarem se informando e estarem se atualizando"... Fiquei pipocando no assento da lotação!!
Será que estou realmente tão mal informado que não sabia que tamanho gerundismo já está fazendo parte da nova reforma ortográfica?
Vamos estar tendo que estar escrevendo e estar falando desse jeito se não quisermos estar sendo chamados de estapafúrdios?
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Lotação em alta
Nas minhas idas e vindas para o trabalho, alterno bicicleta, corrida e lotação. Esta última é uma oportunidade para ler um pouco, mas naquele dia estava impossível. A lotação era conduzida em alta velocidade e entre curvas vertiginosas, acelerações e freadas violentas, os passageiros se acotovelavam entre resmungos, ais e uis. Contei ao menos três semáforos vermelhos entre muitas buzinadas dos outros motoristas que indignados, manifestavam seu protesto contra o condutor que ignorava tudo e acelerava mais fundo. Uma moça se desequilibrava, uma senhora rezava, um senhor resmungava, um rapaz ria e minha volta para casa parecia uma interminável corrida enquanto eu tentava imaginar de onde o motorista tirava tanto desrespeito e imprudência.
A violenta freada ao chegamos no largo do terminal Bresser colocou-me diante de uma situação inédita: No centro do largo havia um multidão rodeando uma espécie de cadafalso. Sobre ele, um homem corpulento com um capuz negro envolvia o pescoço de um senhor com uma corda que pendia de cima. Imediatamente o motorista gritou: "PAPAI!!" enquanto corria na direção do cadafalso; o velho virava a cabeça e gritava "MEU FILHO!"... e então finalmente compreendi e pensei... bem, correr desse jeito para tirar o pai da forca, tá valendo...
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Estrelas para todos
Papai, como foi que eu nasci?
Uma estrela, meu amor... todas as pessoas já foram um dia, estrelinhas no céu e você também. Um dia a estrelinha caiu e você nasceu. Você já viu uma estrela cair do céu, né? Cada vez que uma estrelinha cai, nasce um menininho ou então uma menininha linda como você.
E por que vovô morreu?
Ele voltou a ser estrelinha. As pessoas são estrelinhas que caem na terra, lembra? Quando Papai-do-Céu precisa de mais estrelinhas pra colocar no céu, as pessoas que estão na terra morrem para voltar a ser estrelinha. É por isso que sempre tem gente na terra e também tem estrelinha no céu.
Um dia você vai virar estrelinha também?
Ora meu bem, papai é mais que estrelinha meu amor, papai é SU-PERS-TAR!!
Sapataria do passado
Naquele sábado de manhã, a luminosidade que atravessava as tramas da cortina me fez lembrar que seria uma boa oportunidade para visitar alguém que fizesse reparos de costuras.. a idéia era costurar um pano escuro por trás da cortina e trazer um pouquinho mais de trevas para nossas manhãs de ócio. Aproveite e levei junto um par de sapatos daqueles que a gente tem dó de mandar embora.
Numa conhecida avenida perto de casa encontrei a "Sapataria e Costura do Futuro". Uau, bem diferente das antigas sapatarias de bairro, cheia de acessórios e mirabolâncias utilíssimas (é o que dizem).
E diz a moça, Seu sapato nós consertamos, mas não fazemos a limpeza da camurça, para isto temos este produto aqui (que custa R$11,00), Mas vocês não podem aplicar o produto e fazer a limpeza? Poder até podemos... Espera um pouco, podem ou não podem?... Pois é, poder até podemos, mas se não ficar bom aí o senhor não vai gostar do serviço, Ah, então eu compro o produto, faço o serviço sozinho e se eu não gostar bato a cabeça na quina do armário... Exatamente, senhor.
E continuamos, Agora a cortina não dá pra mexer, Mas por quê? é só alinhavar um pano preto aqui atrás, ó, Nós só fazemos aqui o que dá pra fazer na máquina, se tem que por a mão nós não fazemos, Tudo bem... entendi... até logo então.
Continuei pelo bairro com a cortina debaixo do braço em busca de uma "Costureira do Passado"... e encontrei: Deixa comigo que eu faço isso, disse a simpática velhinha rodeada de panos e linhas.
Moral da história: Quando chegar esse tal de futuro, jogaremos tudo no lixo e compraremos tudo novo.
Ah!! o futuro já chegou né?
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Cadê a Zíbia??!?
Um amigo veterinário me contou esta outro dia:
"Quando estou atendendo na clínica, costumo chamar os clientes pelo nome do cachorro: Tótó, Xuxa, Lulú... e por aí vai... Bom, daquela vez o bicho se chamava Zíbia, igual a tal mulher que escreve livros piscographados, sabe? Tudo bem, Zíbia né? aperta o botão do microfone: ZI-BI-A!
Me entra porta adentro (essa é ótima né?) a mulher (sem cachorro(nem gato)) CA-TA-Tô-NI-CA e senta na cadeira na minha frente olhando através da minha cara com um olhão desse tamanho, ó!
Após alguns instantes de silêncio, resolvi perguntar:
- Ahan, senhora... cadê a Zíbia?
- A Zíbia? Ah!!! A ZÍÍÍÍBIAAAA!! ESQUECI A ZÍBIA MEU DEUS!!
- Minha senhora, o que é isso que a senhora tomou? Me fala que eu quero ficar igualzinho..."
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