Atendendo a pedidos de meu amigo Rodrigo, vou contar uma historinha sobre a vida de caminhoneiro nos EUA.
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Aprender a manobrar o caminhão não foi difícil, afinal meu primo e meu tio faziam justamente este trabalho e quando eu saia com eles, muitas vezes treinava manobras. Foi meu primo Alexandre que me ensinou as técnicas para mudas as marchas no câmbio não-sincronizado, que exigia que as mudanças fossem feitas "no tempo", caso contrário a marcha simplesmente não entrava e ainda arranhava horrivelmente. Ele também me ensinou a dar ré com a carreta conectada, vocês não imaginam como é complicado, afinal é preciso virar o volante pro lado contrário daquele que você quer ir.
Arrumei um trabalho para transportar conteiners nas estações de trem e comecei a me divertir.
O trabalho era assim: eu ia até uma estação de trem, pegava um conteiner vazio e rumava até uma empresa para carrega-lo com alguma mercadoria. Naquele dia o conteiner foi enchido de rodas de alumínio para automóveis.
Depois de cheio, levava o conteiner para outra estação de trem, ele passava por uma inspeção visual e deixava-o lá. Missão cumprida, na época um serviço destes dentro da área de Los Angeles pagava cerca de 70 dólares. Era meio solitário, mas durante o dia muitas vezes encontrava amigos nas estações de trem. A vantagem era que ninguém falava português e eu podia treinar meu ingrêis o tempo todo; e é lógico, matracava o mais que podia.
Ao sair (delicadamente) do "dock", que é o lugar onde encostava o caminhão para carregar, enganchei a porta traseira na porta de aço da garagem... o resultado começou a se revelar num barulho distante e só fui constatar a extensão dos danos quando desci e fui lá olhar o que tinha acontecido.
Eu literalmente arranquei os trilhos da porta de aço da parede, e a porta do conteiner ficou pendurada por apenas uma dobradiça... as outras duas se romperam com a porrada.
Foi um desespero, afinal aquilo poderia significar um problema muito grande naquele raio de país estranho.
Pedi ajuda ao encarregado que se limitou a tirar fotografias com uma polaroid.
Com uma corda que eu tinha, consegui prender a porta meio pendurada e rumei para o estacionamento do caminhão, já que eu sabia que o mecânico poderia me ajudar com algum milagre.
A jogada agora era consertar a porta. Fechamo-la e soldamos as dobradiças quebradas disfançando-as com graxa. A técnica foi levar o conteiner minutos antes da "troca da guarda", assim o cara que fosse inspecionar o conteiner já ia estar cansadão e não ia notar que o bicho tinha sido quase-totalmente-semi-destruido.
E deu certo?
Sim, deu tudo certo, o cara estava bocejando quando eu cheguei, olhou de longe colocou um visto e eu nunca mais vi o conteiner.
E a porta da empresa?
Ah, isso é outra história...
Uma torneirinha de escape para o maravilhoso e o aterrorizante do dia a dia de um cidadão do mundo, pai, voador, LGBT, empresário, um pouquinho surdo, estudante de psicanálise, que gosta demais de escrever. Silvio Ambrosini é conhecido pelos amigos como Sivuca, é autor dos livros publicados "Ventomania - Uma Vida Voando" e "Voando de Parapente" A venda em https://ventomania.com.br. Aproveite para visitar meu instagram em @sivukus
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3 comentários:
Hehe, gostei!
Nunca posto nada aqui, apesar de sempre ler o seu blog!
CONTA A HISTÓRIA DA PORTA!!!
abraço pra você
Juninho
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