domingo, 9 de outubro de 2022

Pedalando até Santos pra filar boia na mamãe

 


Saí cedo de casa pra filar boia na mamãe, peguei a bicicleta e me joguei na estrada, ai que medo, abre o olho, cuidado com os assaltantes, cuidado com os automóveis, mas também toma cuidado com a vida que passa e precisa ser vivida, porque é vida que passa rápido igual bonde que só se pega andando e tem que pular quando chegar a estação, porque o bonde, assim como a vida, não para, ela vai passando.

Olhei para baixo e vi meus pés pedalando, pedalando quase sem parar. O asfalto passa rápido, a ponte e os matos, os pássaros que fogem e gritam nos raios do sol que entram de lado ainda porque é tão cedo de manhãzinha.
Tenho vontade de terminar a subida para alcançar a descida, e descendo, olho a próxima subida que vai crescendo.

Os carros passam zunindo na estrada, todos com pressa ou sem ela, mas riscando a estrada de branco, prata e preto, as vezes um vermelho, um azul, uma moto barulhenta, um triciclo com uma caveira, um caminhão perdido na paisagem, as famílias com as crianças coladas no vidro, as moças com os pés sobre o painel, os homens com o cigarro do lado de fora da janela.

Em minha bicicleta vejo o mundo andando rápido e meus pés que rodam nos pedais. E chega a polícia rodoviária e lá estão os guardas rodoviários e olho para o outro lado fingindo que não vi. Bicicleta é proibido, mas eles não ligam, porque ciclista é tudo de bom.

Na primeira curva está o sujeito, chego perto, tudo bem? Vai para a praia? Como tu te chama? Marcos? Eu sou Sivuca. É um prazer! Vamos juntos, a gente se ajuda! E seguimos alinhados, brincando de pequenas ultrapassagens, testando a pressa que nenhum dos dois tem.

Juntos, passamos por baixo da estrada, olha a mata, os pássaros, os carros que às vezes aparecem entre as árvores e os outros ciclistas que acenam sorrindo. Rápido nas ladeiras, devagar nas pirambas. Parada na cachoeira, cuecas, a água gelada, fotos, seguimos em frente, demos dicas para os rapazes na dúvida, pedimos dicas aos rapazes com certeza.

Erramos uma curva, acertamos a outra, voltamos, carregamos as bikes nas costas, encontramos a rodovia e aceleramos o passo, cruzamos as faixas brincando de automóvel. Essa é aquela parte da viagem que a gente não conta pra ninguém... Olha aqueles dois malucos entre os carros... E no fim deu tudo certo, quantos quilômetros? Setenta e cinco! Amanhã tem mais! Obrigado Marcos, pela companhia!

Pedal é assim, é companhia de amigo que aparece porque todos querem a mesma coisa, pedalar e sentir a vida que está passando.

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