segunda-feira, 14 de setembro de 2009

É fácil perder o controle

Ontem assisti o filme Control, feito em 2007, sobre a vida do vocalista da banda Joy Division, Ian Curtis.
Foi uma dica de meu amigo Kiko, já que quando voltávamos da viagem para a Ilha do Cardoso, conversávamos a respeito de várias bandas e entre elas, algumas coisas do glitter Rock, de David Bowie, do Bauhaus, etc.
Particularmente fui fã do Joy Division, que para quem não sabe, mais tarde, após a morte do vocalista Ian Curtis, transformar-se-ia na conhecida New Order, famosa por várias músicas e entre elas Blue Monday.
O New Order deixou para trás toda a depressão que matou Ian Curtis, o New Order tinha de ser bastante diferente, pra cima, mas não há como deixar passar despercebido o som do Joy Division com suas letras tristes mas contundentes.
Mas o que mais me chamou a atenção no filme foi mesmo a descrição da história de um garoto (Curtis se matou enforcado em sua casa aos 23 anos) criativo, realmente genial, que encontra lugar para expressar sua poesia numa banda de rock feita de outros caras tão (ou mais) garotos que ele, explode rapidamente nas paradas de sucesso e começa a exigir de Curtis algo que segundo ele "não é capaz de atender".
O clima cinzento inglês vai além das paredes das casas retratadas na fotografia P&B do filme, ele está presente no humor das pessoas, na empresa onde Curtis trabalha, nos amigos, nos bares, na sua esposa e em tudo mais. Deve ser duro crescer num ambiente que sugere a introspecção e a tristeza dessa forma... que bom que somos brasileiros e aqui tudo é um pouco mais "colorido".
Curtis está vivendo o final da adolescência, é apenas garoto e como tal, encontra uma dificuldade tremenda em lidar com o mundo que o cerca. Ele está como ele mesmo diz, "fora de controle". 
Ele quer ser feliz, mas sua falta de experiência não permite que ele seja capaz de analisar esse mundo mais que apenas superficialmente. Toma decisões baseadas apenas no sentimento, louváveis, mas duvidosas, como propor sua namorada em casamento e logo depois ter um filho. Claro que ela acha tudo lindo e entra na dele, mas logo mais as exigências do estrelato, amargamente temperadas com a descoberta de uma epilepsia, a rotina do casamento e um caso com uma outra garota, vão transformando a vida de Curtis em um caos sem solução.
A letra da sua música mais famosa "Love will tear us apart" dá uma ideia do que ele só é capaz de expressar na poesia de suas músicas, já que quando é cobrado pessoalmente, não consegue ir além do silêncio:
"Quando a rotina corrói duramente e as ambições são pequenas
E o ressentimento voa alto, mas as emoções não crescerão
E vamos mudando nossos caminhos pegando estradas diferentes
Então o amor, o amor vai nos separar de novo".
Quando eu tinha minha banda, há quase vinte anos atrás e adorava o Joy Division, era um pouco parecido com Ian, não era capaz de ver as coisas em profundidade e provavelmente errava tanto quanto ele especialmente quando era necessário tomar uma decisão, especialmente se era uma decisão que envolvesse o futuro, algo tão incerto para quem tem 18, 19, 20 e poucos anos... Espero que os jovens que me são caros (e todos os outros) tenham um pouco mais de paciência com a vida, espero que saibam olhar os revezes de estar vivos, como um mero contraponto ao quanto é maravilhoso estar vivo.

3 comentários:

Kiko Martins Dias disse...

Adorei seu texto.
Gosto de filmes melancólicos, baseados em histórias reais ou não.
Agora vc tem que assistir Donnie Darko e Myterious Skin.
Beijo grande,
Kiko

Kiko Martins Dias disse...

Adorei seu texto, estou virando fã.
Outros filmes melancólicos que tem que assistir: Donnie Darko e Mysterious Skin.
beijo grande,
Kiko

Anônimo disse...

Postagem antiga mas atual.22 anos e muita pressão.

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